Desde há milénios (talvez desde há 5000 a.C.) que diferentes povos registavam observações do que viam no céu, pelo que já eram conhecidos fenómenos de repetição no céu: o nascimento e ocaso do Sol, as fases da Lua e a repetição das posições das estrelas ano após ano.

O filósofo grego Aristóteles defendeu a esfericidade da Terra com bases nas observações: a sombra, sempre redonda, da Terra na Lua; a variação de altura da Estrela Polar quando nos deslocamos ao longo de um meridiano; a observação do aparecimento das velas de um barco antes do resto do barco, quando este se aproxima.

O Modelo Geocêntrico, apresentado por Aristóteles, imagina a Terra como o centro de um Universo esférico e imutável.

Este sistema surgia das observações realizadas pelo homem no seu dia-a-dia: a Terra parece imóvel e todos os astros conhecidos (nessa época), Lua, MercúrioVénusMarteJúpiter e Saturno e as estrelas fixas, parecem estar em esferas de cristal que giram em seu redor (Figura 1).

Figura 1 - Modelo Geocêntrico (Bartolomeu Velho, 1568).
Figura 1 - Modelo Geocêntrico (Bartolomeu Velho, 1568).

Este modelo, com o movimento dos corpos a ser realizados em esferas concêntricas, não explicava um fenómeno observado: a retrogradação dos planetas (Figura 2). A retrogradação dos planetas é uma inversão do movimento aparente de um planeta, sobre o fundo de estrelas (aparentemente) estáticas.

Figura 2 - Representação da retrogradação de Marte, entre 24/08/2007 e 25/04/2008 (imagem: clea-astro.eu, adaptada).
Figura 2 - Representação da retrogradação de Marte, entre 24/08/2007 e 25/04/2008 (imagem: clea-astro.eu, adaptada).

Ptolomeu conseguiu ultrapassar alguns desses problemas com a introdução de epiciclos (Figura 3).

Figura 3 - Epiciclo.
Figura 3 - Epiciclo.

Ptolomeu afirmou que cada planeta se move ao longo de um círculo (epiciclo) cujo centro se movimenta, ao mesmo tempo, sobre um outro círculo maior (deferente). O movimento resultante do planeta é a linha vermelha da Figura 3. A retrogradação acontece quando o observador, no centro ou perto deste, vê o planeta a executar a trajetória na zona a sombreado da Figura 3. Neste sistema de Ptolomeu a Terra não se encontra exatamente no centro do círculo deferente. A Lua e o Sol não necessitavam de epiciclos para explicar os seus movimentos aparentes.

Embora a introdução dos epiciclos conseguisse melhorar a explicação das observações realizadas (não explicava, por exemplo, a não variação de tamanho da Lua, prevista no modelo), este era um sistema muito complexo, com várias dezenas de epiciclos necessários para todo o Sistema Solar conhecido na altura.

A grande aceitação do geocentrismo deve-se à conjugação de vários aspetos:

Não sentimos a Terra a mover-se;

No nosso dia-a-dia podemos observar o movimento aparente de muitos astros (o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas) pelo que estarmos no centro desses movimentos é o que parece fazer mais sentido;

O Modelo Geocêntrico era um modelo defendido pela Igreja porque coloca o Homem, o ser perfeito, num lugar de destaque (no centro do Universo, criado por Deus) e tudo gira em torno deste ser perfeito. Contrariar a Igreja era muito pouco comum e perigoso, nessa altura.

Embora já um outro filósofo grego, Aristarco de Samos, tivesse defendido a rotação diária da Terra e da Terra em torno do Sol, o Modelo Geocêntrico foi aceite até ao séc. XVI, altura em que Copérnico defendeu um sistema diferente: o Modelo Heliocêntrico.

Bibliografia
M. Alonso, E. J. Finn, “Física”, Escolar Editora, 2012, Lisboa.
M. Ferreira, G. de Almeida, "Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas", Plátano Edições Técnicas, Lisboa, 1999.
S. Hawking, "A Teoria de Tudo - A Origem e o Destino do Universo", Gradiva, Lisboa, 2010.